segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Pesquisador da Unesp descobre planta com capacidade de regeneração da pele e produção de colágeno

Picão-preto (Bidens pilosa)

Pesquisador descobre em erva daninha ação anti-rugasTestes indicam que planta tem capacidade de regeneração da pele e produção de colágeno
 
Um projeto realizado pelo professor Luiz Claudio Di Stasi, do Instituto de Biociências (IB), Câmpus de Botucatu, e a empresa Chemyunion, de Sorocaba (SP), apresenta novos mecanismos moleculares com ação contra flacidez e rugas descobertos no picão-preto (Bidens pilosa). O resultado é um ativo cosmético que funciona de forma semelhante ao retinol, sintetizado a partir da vitamina A. 

O picão-preto, considerado uma espécie invasora no campo, mostrou em testes ter benefícios similares aos dos retinoides, receitados nos consultórios dermatológicos em razão do seu poder de regeneração celular e síntese de colágeno. Segundo o estudo, esses resultados não acarretam os efeitos adversos dos retinoides comerciais, como irritação cutânea, descamação e ardência. Outra vantagem da erva daninha é que o seu uso é sustentável, já que ela tem um crescimento rápido, o que evita que sejam exploradas espécies de árvores maiores para obtenção dos mesmos compostos. 

Na pesquisa realizada com o picão-preto, a análise fitoquímica do extrato da planta revelou a presença de fitol e ácidos graxos, sinalizadores de possíveis ações anti-inflamatória, antioxidante e estimuladora de síntese da matriz extracelular, todas ligadas a um mecanismo de ação similar ao dos retinoides. 

Com base nisso, os pesquisadores avaliaram as atividades antioxidante (pela ação de enzimas específicas), anti-inflamatória (pela quantificação de mediadores inflamatórios como prostaglandina) e retinoide-like (pela medição do fator de crescimento dos componentes da matriz extracelular, como colágeno e elastina). Os resultados obtidos mostram que o extrato da planta funciona de forma parecida ao dos retinoides clássicos, que atuam no rejuvenescimento da pele, promovendo renovação celular bem rápida e eficiente, com diminuição de rugas, de manchas e aumento da elasticidade. 

Prêmio
A comprovação in vitro foi feita com anticorpos que marcam os receptores de retinoide na pele. Os retinoides podem atuar em dois receptores distintos, os ácidos (RARs) e os não-ácidos (RXRs). Os receptores ácidos produzem uma resposta biológica mais intensa, o que pode desencadear efeitos indesejáveis. Como o ativo do picão-preto tem uma atividade pouco expressiva nesse receptor, isso pode ajudar a explicar por que ele apresenta benefício biológico similar ao ácido retinoico, porém em menor escala e sem os efeitos colaterais.
A pesquisa foi premiada em outubro como o melhor trabalho científico apresentado no 20º Congresso Latino e Ibérico de Químicos Cosméticos em Isla Margarita, na Venezuela, e a inovação está sendo testada por uma indústria brasileira do setor de cosméticos. 

Angico-branco
Não é a primeira experiência de Di Stasi na área de cosméticos. Antes disso, o cientista participou do lançamento do Aquasense, em 2008, desenvolvido com apoio da Fapesp por meio de um projeto do programa de Pesquisa Inovativa em Pequena Empresa (Pipe). O Aquasense é um extrato feito com a casca dos galhos do angico-branco (Piptadenia colubrina), uma árvore de grande porte da mata atlântica, indicado para uso em cremes, loções e outros produtos com o objetivo de aumentar a hidratação da pele. 

O foco da pesquisa iniciada em 2004 era buscar um ativo hidratante em uma planta da biodiversidade brasileira que estimulasse o mecanismo de síntese das aquaporinas. Para isso, uma das sócias da Chemyunion, Maria Del Carmen Velazquez Pereda, procurou o professor Di Stasi, do Departamento de Farmacologia, autor de várias publicações sobre plantas medicinais da Amazônia e da mata atlântica.
O pesquisador, que passou a fazer parte da equipe científica da empresa como consultor, pesquisou plantas da flora brasileira com potencial hidratante e reparador da pele. A escolha recaiu sobre o angico-branco, mas era preciso provar na prática que ele realmente seria capaz de expressar o mecanismo de interesse. 

No caso do angico-branco, a casca dos galhos é triturada em pequenos fragmentos, dos quais se obtém um extrato que contém uma classe de polissacarídeos chamada arabinogalactanas, responsável por estimular a célula a expressar as aquaporinas. Com isso elas transportam mais água para a pele, deixando-a hidratada. O mecanismo de hidratação do extrato do angico-branco resultou na publicação de artigos em revistas científicas e prêmios em congressos, como o da Sociedade Brasileira de Cosmetologia em 2008. 

Camapu
Outro produto desenvolvido pela Chemyunion com conhecimento desenvolvido no IB da Unesp e apoio do projeto Pipe, atualmente em testes por uma empresa brasileira da área de cosméticos, é um ativo extraído da planta camapu (Physalis angulatu) – arbusto originário da Amazônia e das regiões Norte e Nordeste – com atividade semelhante à dos anti-inflamatórios corticoesteroides, mas sem os efeitos colaterais de uso a longo prazo, como ressecamento e envelhecimento da pele. 

A extração do camapu e a do picão-preto são feitas pelo processo chamado de extração por CO2 supercrítico. Quando o gás carbônico é injetado no equipamento, ele atravessa a planta e arrasta os ativos. Ao eliminar o gás, não sobra nenhum resíduo de solvente, como nos processos tradicionais de extração. Da planta, obtém-se uma pasta que, misturada a um meio apropriado, possibilita dar início ao processo de triagem. 

“A proposta no caso do camapu foi a de buscar ativos com ação anti-inflamatória, similar aos corticoides, muito utilizados hoje para tratar problemas da pele e do couro cabeludo, como coceiras, eczemas e caspa”, diz a bióloga Juliana Tibério Checon, que trabalhou com a planta durante o seu mestrado em farmacologia no IB, orientada por Di Stasi, e hoje faz parte da equipe de pesquisa e desenvolvimento da empresa. 

“Investigamos dentro de plantas da flora brasileira ativos que tivessem o mesmo benefício dos corticoides usados atualmente, mas sem os efeitos colaterais”, diz Juliana. O estudo começou com a triagem de plantas in vitro para avaliar se em cosmética elas apresentavam os efeitos anti-inflamatórios indicados pelo uso tradicional das populações onde a planta é nativa.

Foram investigados vários mecanismos de ação do extrato da planta, desde a proteção ao calor, a reposição de colágeno e possíveis efeitos colaterais. Os estudos in vitro dos efeitos do ativo quando exposto ao calor foram feitos com fragmentos de pele descartados em cirurgias plásticas, como de pálpebras, obtidos com autorização do comitê de ética. 

Os fragmentos de pele foram tratados com 0,1% do produto e outros não foram tratados, para servir de comparação. Em seguida foram colocados em estufa a 40°C durante 90 minutos, simulando o aquecimento provocado pela exposição solar, situação propícia ao desenvolvimento de processo inflamatório e consequente hiperpigmentação e formação de rugas. Todos os fragmentos foram marcados por imunofluorescência com anticorpos para colágeno. Em contato com a pele, o anticorpo emite luz quando se conecta ao colágeno e, então, é possível avaliar qualitativamente uma maior ou menor presença dessa proteína na pele. “Na comparação entre os dois tipos de fragmentos é possível ver que o extrato de camapu conseguiu prevenir a perda de células e a quebra de fibras de colágeno”, diz Juliana. 

Os efeitos colaterais encontrados em corticoides também foram avaliados. Nessa análise, culturas celulares da pele foram tratadas com corticoides comerciais e com o ativo do extrato vegetal. “Em cinco dias de uso, os corticoides comerciais começaram a degradar o colágeno da pele, enquanto o ativo do camapu que desenvolvemos continuou a estimular a produção de colágeno.” 

Assessoria de Comunicação e Imprensa com informações da Revista Fapesp

8 comentários:

  1. A pesquisa sobre o picão preto me entereçou muito.
    Se precisarem de pessoas para teste estou a disposição.
    meu email:ellpprado@hotmail.com.
    muito obrigado.

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  2. A pesquisa sobre o picão preto me entereçou muito.
    Se precisarem de pessoas para teste estou a disposição.
    meu email:ellpprado@hotmail.com.
    muito obrigado.

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  3. Gostaria de saber qual parte da planta foi utilizada para o extrato...
    Muito obrigada!!!

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  4. propriedades do picao,toda a planta,Gilvania,fitoterapeuta.

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  5. Como ultizar as plantas para obter os resultados sugeridos pela pesquisa?

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  6. atraz da minha casa tem essa planta nao sabia dos beneficios

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